Lembro-me até hoje dos meus primeiros versinhos , com toda a inocência dos versos infantis anotei na beirada de meu caderno, com tal garrancho que vaticinaram que eu seria médico:
Estou sofrendo de uma doença
Chamada amor infinito
Que para mim é uma sentença
Mas que é belo e bonito.
Chamada amor infinito
Que para mim é uma sentença
Mas que é belo e bonito.
Muitos
temas da literatura estão nesses versos , mas eles mesmos enquanto versos são
horríveis , ainda assim não é bom que rasguemos tudo que escrevemos , uma obra
surge assim, guardemos tudo , alguma coisa de boa quase sempre salva-se , o que
não podemos fazer é publicar prematuramente , devemos ter consciência daquilo
que fazemos ( muitos escritores renegaram os seus primeiros livros ) , guardar
podemos guardar qualquer coisa, precisamos de material , mas temos que expor ,
sempre , os melhores , a não ser que a intenção seja ser descuidado , esses
meus textos mesmo são um exemplo de descuido , mas com ressalvas. Uma vez um professor especialista em literatura ( falava 7 línguas
) viu um poema meu , eu estava no segundo colegial se não me engano , e ele
achou aquele poema bom demais e até disse: “Estou impressionado, foi você que
escreveu? Me mostre outros” eu fui estúpido, fiquei a noite inteira escrevendo
20 poemas, nenhum deles era bom, com isso convenci ele que aquele único poema
bom era somente um golpe da sorte , que eu não tinha nenhum talento , nunca
mais ele me deu uma chance de provar a mim mesmo , precipitação jamais, como
dizem a pressa é inimiga da perfeição, e
mesmo aqueles escritores que escrevem de uma vez ( geração beat , alguns
modernos ) viveram muita coisa antes de começar a digitar freneticamente em
suas máquinas de escrever.
A
literatura expressa tanto aspectos intelectuais tanto sentimentais de uma
cultura, assim percebemos por que sociólogos se interessam tanto por ela , um
autor disse e minha memória é péssima que não há nada que tenha acontecido que
não tenha surgido antes na literatura , a viagem à lua já estava na obra do
romano Luciano de Samósata , sendo que nasceu 1 século depois de Cristo ( Julio
Verne não é o único a antecipar em suas obras! ) , sempre projetamos , de uma
forma ou outra, nossas ideias e anseios na arte , recentemente surgiu um filme
no cinema chamado “Transcendence” ( Transcendência ) e falava sobre um homem
que conseguiu transcender sua condição mortal usando o processamento de
computadores e a internet, nossa sociedade , enfim, é fissurada pela tecnologia e os filmes são sintomáticos, a própria literatura já criou para isso um
subgênero, o de ficção científica. De toda forma quando somos jovens temos
pouco para falar em termos de conhecimento e sentimentos, não conhecemos muito a vida, falamos quase
sempre do que nós sentimos e isso faz muito sentido pois somos praticamente
tudo o que conhecemos, esse é o erro mais comum que cometemos porém , falar de
nós , somente nós, entendamos bem isso.
Não
é um erro falar de nós mesmos, entretanto, o que somos na juventude é previsível e tem um interesse
muito restrito, a verdade é , as coisas que nos interessam quando jovens
interessarão somente outros jovens e ( e isso é o mais triste ) só aos jovens
de nossa época. Por isso os escritores dedicados somente aos mais novos acabam
tendo que possuir uma espécie de síndrome de Peter-Pan, escrevem sempre visando
agradar um público específico , e não é tentando agradar um público que nos
tornaremos grandes, é criando nosso próprio público. Artur Rimbaud , poeta
francês , terminou de escrever sua obra aos 21 anos ( e nunca mais escreveu
literatura ) , mas ele é um gênio , é e não era , pois possui interesse para todo o tempo e permanece
vivo em sua obra , tem interesse porque o que escrevia não era tão somente
sobre seus problemas adolescentes.
Por
que Homero ainda é lido se já se passaram mais de 2000 anos? Como alcançar a
isso? Não há um manual rígido , se eu soubesse, meus amigos, eu seria com todo o prazer o novo Homero ,
para ser lido no ano 4000 depois de Cristo, a arte é um problema universal e ao
mesmo tempo uma resposta para uma questão particular. Eu disse logo atrás que
devemos ser humildes mas ambiciosos, não é correto que devamos escrever com a
intenção de sermos eternos, essa é uma ilusão banal , a eternidade na sociedade
, sermos lembrados para sempre , não interessa nada para nós que morremos ( só
nos interessa a salvação e eternidade de nossa alma ) o que nos interessa
realmente é que a arte de verdade nos engrandece , nos revela coisas sobre nós
mesmos e sobre o mundo que , caso contrário, não teríamos acesso, eis ai sua
grandeza. A grandeza esta na arte, não em nós, mas o que é arte, tudo é arte no
mesmo sentido, no mesmo grau? Com certeza os leitores devem já ter se
perguntando a respeito disso, esse será o próximo tópico, até a próxima
quarta-feira!
Já
que estamos falando de poemas, eis um
outro que rascunhei ontem, ainda que não esteja bem trabalhado somente as
ideias abordadas já demonstram uma preocupação estética muito superior ao “poema”
de minha juventude.
Passos
na cozinha de madrugada
O amor é um poema épico
Porém sempre curto
Diz, mas não com palavras
Que ambos morreriam numa batalha
Como dois espartanos irmãos de armas.
Porém sempre curto
Diz, mas não com palavras
Que ambos morreriam numa batalha
Como dois espartanos irmãos de armas.
Como um filósofo que , grandioso,
Pensa sobre um tema só
"Amor" , "amor" , "amor"
Está escrito nas paredes de sua torre
Ou será um santo?
Pensa sobre um tema só
"Amor" , "amor" , "amor"
Está escrito nas paredes de sua torre
Ou será um santo?
As palavras são para o amor
O mesmo que para o poema,
Nada, os sons o mesmo que para a canção,
Silêncio,a alma de nossa amada
A eternidade, que era o mármore para Michelangelo.
O mesmo que para o poema,
Nada, os sons o mesmo que para a canção,
Silêncio,a alma de nossa amada
A eternidade, que era o mármore para Michelangelo.
Abraços
fraternos!