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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Dicas para novos escritores #2



Lembro-me até hoje dos meus primeiros versinhos , com toda a inocência dos versos infantis anotei na beirada de meu caderno, com tal garrancho que vaticinaram que eu seria médico:
Estou sofrendo de uma doença
Chamada amor infinito
Que para mim é uma sentença
Mas que é belo e bonito.
Muitos temas da literatura estão nesses versos , mas eles mesmos enquanto versos são horríveis , ainda assim não é bom que rasguemos tudo que escrevemos , uma obra surge assim, guardemos tudo , alguma coisa de boa quase sempre salva-se , o que não podemos fazer é publicar prematuramente , devemos ter consciência daquilo que fazemos ( muitos escritores renegaram os seus primeiros livros ) , guardar podemos guardar qualquer coisa, precisamos de material , mas temos que expor , sempre , os melhores , a não ser que a intenção seja ser descuidado , esses meus textos mesmo são um exemplo de descuido , mas com ressalvas. Uma vez um professor  especialista em literatura ( falava 7 línguas ) viu um poema meu , eu estava no segundo colegial se não me engano , e ele achou aquele poema bom demais e até disse: “Estou impressionado, foi você que escreveu? Me mostre outros” eu fui estúpido, fiquei a noite inteira escrevendo 20 poemas, nenhum deles era bom, com isso convenci ele que aquele único poema bom era somente um golpe da sorte , que eu não tinha nenhum talento , nunca mais ele me deu uma chance de provar a mim mesmo , precipitação jamais, como dizem  a pressa é inimiga da perfeição, e mesmo aqueles escritores que escrevem de uma vez ( geração beat , alguns modernos ) viveram muita coisa antes de começar a digitar freneticamente em suas máquinas de escrever.
A literatura expressa tanto aspectos intelectuais tanto sentimentais de uma cultura, assim percebemos por que sociólogos se interessam tanto por ela , um autor disse e minha memória é péssima que não há nada que tenha acontecido que não tenha surgido antes na literatura , a viagem à lua já estava na obra do romano Luciano de Samósata , sendo que nasceu 1 século depois de Cristo ( Julio Verne não é o único a antecipar em suas obras! ) , sempre projetamos , de uma forma ou outra, nossas ideias e anseios na arte , recentemente surgiu um filme no cinema chamado “Transcendence” ( Transcendência ) e falava sobre um homem que conseguiu transcender sua condição mortal usando o processamento de computadores e a internet, nossa sociedade , enfim, é fissurada pela tecnologia  e os filmes são sintomáticos, a própria literatura já criou para isso um subgênero, o de ficção científica. De toda forma quando somos jovens temos pouco para falar em termos de conhecimento e sentimentos,  não conhecemos muito a vida, falamos quase sempre do que nós sentimos e isso faz muito sentido pois somos praticamente tudo o que conhecemos, esse é o erro mais comum que cometemos porém , falar de nós , somente nós, entendamos bem isso.
Não é um erro falar de nós mesmos, entretanto, o que somos  na juventude é previsível e tem um interesse muito restrito, a verdade é , as coisas que nos interessam quando jovens interessarão somente outros jovens e ( e isso é o mais triste ) só aos jovens de nossa época. Por isso os escritores dedicados somente aos mais novos acabam tendo que possuir uma espécie de síndrome de Peter-Pan, escrevem sempre visando agradar um público específico , e não é tentando agradar um público que nos tornaremos grandes, é criando nosso próprio público. Artur Rimbaud , poeta francês , terminou de escrever sua obra aos 21 anos ( e nunca mais escreveu literatura ) , mas ele é um gênio , é e não era , pois  possui interesse para todo o tempo e permanece vivo em sua obra , tem interesse porque o que escrevia não era tão somente sobre seus problemas adolescentes.
Por que Homero ainda é lido se já se passaram mais de 2000 anos? Como alcançar a isso? Não há um manual rígido , se eu soubesse, meus amigos,  eu seria com todo o prazer o novo Homero , para ser lido no ano 4000 depois de Cristo, a arte é um problema universal e ao mesmo tempo uma resposta para uma questão particular. Eu disse logo atrás que devemos ser humildes mas ambiciosos, não é correto que devamos escrever com a intenção de sermos eternos, essa é uma ilusão banal , a eternidade na sociedade , sermos lembrados para sempre , não interessa nada para nós que morremos ( só nos interessa a salvação e eternidade de nossa alma ) o que nos interessa realmente é que a arte de verdade nos engrandece , nos revela coisas sobre nós mesmos e sobre o mundo que , caso contrário, não teríamos acesso, eis ai sua grandeza. A grandeza esta na arte, não em nós, mas o que é arte, tudo é arte no mesmo sentido, no mesmo grau? Com certeza os leitores devem já ter se perguntando a respeito disso, esse será o próximo tópico, até a próxima quarta-feira!

Já que estamos falando de poemas,  eis um outro que rascunhei ontem, ainda que não esteja bem trabalhado somente as ideias abordadas já demonstram uma preocupação estética muito superior ao “poema” de minha juventude.

Passos na cozinha de madrugada
O amor é um poema épico
Porém sempre curto
Diz, mas não com palavras
Que ambos morreriam numa batalha
Como dois espartanos irmãos de armas.
Como um filósofo que , grandioso, 
Pensa sobre um tema só
"Amor" , "amor" , "amor"
Está escrito nas paredes de sua torre
Ou será um santo?
As palavras são para o amor
O mesmo que para o poema,
Nada, os sons o mesmo que para a canção, 
Silêncio,a alma de nossa amada
A eternidade,  que era o mármore para Michelangelo.

Abraços fraternos!

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